O Cristianismo e as Religiões (o
fenômeno da aproximação e o RCC)
O
cristianismo e suas várias denominações religiosas é a fé mais professada no
mundo e está presente em todos os continentes. Mas, não foi sempre assim, o
cristianismo surgiu como uma vertente subversiva do judaísmo, sem, no entanto,
nunca ter rompido diretamente com o mesmo. A relação de Jesus com o Judaísmo é
de continuidade e aperfeiçoamento, pois em nenhum momento houve a intenção de
superar o judaísmo, ou mesmo, substituí-lo por uma nova religião. Pelo
contrário, em todo o evangelho é possível identificar claramente que a matriz
dos ensinamentos pregados por Cristo, está completamente ligada a tradição
judaica. Porém, mesmo existindo a vontade de continuidade é notório a divergência
nas ideias e a ambiguidade criadas pelo discurso de Cristo, pois, ao mesmo
tempo que tenta conciliar-se com a antiga lei, impõe a mesma uma renovação.Tudo
isso gera conflito entre a tradição religiosa dominante o judaísmo e a sua mais
nova vertente, récem criada por Jesus, a consequência desse embate é a
perseguição a Cristo e a suas novas ideias.
Jesus
vai romper a barreira do mundo religioso judeu, estendendo a ação salvifica de
Deus para os outros povos, sua relação de respeito e afeto para com os pagãos,
evidencia que o reino de Deus anunciado é para todos, e não mais, apenas para
os judeus. E este reino começa ainda na vida terrena de Jesus, portanto, seu
objetivo não era criar uma igreja diferente, mais sim instaurar o reino de Deus
que começa aqui ainda na terra. A igreja primitiva nos primeiros séculos da era
cristã, também não vai romper automaticamente com o judaísmo, o processo de
construção do cristianismo é lento, porém progressivo e continuo, aos poucos
vai se gestando uma identidade nova, em um processo longo que vai evoluindo
para o desenvolvimento de uma consciência religiosa distinta do judaísmo. Ao se
expandir o cristianismo vai fugindo do horizonte da pregação e missão de Cristo
que é o reino de Deus, e começa a estabelecer mediações entre o homem e a
salvação, ou seja, aos poucos o cristianismo quando se torna a vera religione vai reconstruindo o muro
que Jesus havia derrubado ao romper a barreira do mundo religioso judeu. Construíndo
o seu próprio muro e determinando quem pode entra dentro dele ou não, com isso,
vai criando-se dentro do cristianismo um desprezo pelas crenças que não
professam a mesma fé.
Apesar de ser pelo menos no primeiro
momento uma “versão não autorizada do judaísmo” o cristianismo vai se apropria
e fazer uma interpretação do antigo testamento, para legitimar as novas
verdades criadas no novo testamento. A tradição biblica é forjada em um
contexto de legitimação da autoridade, a promessa feita a Abrãao, as hostilidades
em relações a outras religiões no antigo testamento. Tudo isso criar a auto
compreensão judaica de povo eleito e essa interpretação vai respigar no
cristianismo que também vai se ao proclamar como o único e verdadeiro povo
eleito. Essa restrição aos demais povos da salvação que provém de Deus, não se
faz presente na pregação de Cristo, pois no seu discurso estava claro que a
salvação era destinada igualmente a todos os homens. Portanto, existe na
pregação de Cristo uma universalidade da salvação, e não um exclusivismo que a
noção etnocêntrica de povo eleito provocou. A todo momento Jesus anda com os
pagãos e conversa com os samaritanos, por mais de uma vez sua pregação é
dirigida as ovelhas perdidas da casa de Israel, ou seja, em nada se aproxima do
exclusivismo criado pelo cristianismo.
Após vários séculos do pensamento
exclusivista o cristianismo vai tentar se abrir ao dialogo com as outras
religiões, reconhecendo os valores positivos que estam contidos nas diversas
tradições religiosas. Isso só vai acontecer na década de sessenta com o
Concílio vaticano II, porém, apesar de ser uma iniciativa de diálogo e respeito,
o cristianismo católico vai enxergar as outras religiões com suas “lentes”
ainda voltadas para si. Pois ao mesmo tempo em que se abrir ao diálogo, a
igreja não abri mão de nenhuma das suas verdades de fé, se auto afirmando com
única portadora e detentora do depósito sagrado da fé. O concílio vaticano II
foi o primeiro grande passo da igreja rumo ao diálogo, porém, não estabeleceu
uma relação de igualdade no discurso, algo que hoje está se discutindo com um
equilíbrio maior. Contudo, é preciso resaltar o contexto em que o concílio foi
convocado, pós duas grandes guerras mundiais, somado ao clima de rivalidade e
xenofobia presente em toda a Europa. É preciso reconhecer a importância que o
concílio teve para aplacar os ânimos exaltados, e a evolução do seu discurso
após vários séculos de uma visão exclusivista de mundo que só gerou discórdia e
conflitos.
É nesse
contexto ainda na década de sessenta pós-concílio vaticano II que surge a
Renovação Carismática Católica, um seguimento novo da igreja
que surgiu nos EUA após um retiro espiritual. O movimento RCC como ficou
conhecido, sofreu forte influência do protestantismo pentecostal e também pelas
mudanças que estavam ocorrendo na igreja católica pós-concílio. Assim como o
concílio vaticano II, esse novo seguimento da igreja não buscava abolir nenhum
dogma. O RCC apenas oferecia uma abordagem nova e inovadora num período de
modernização onde a igreja buscava criar novas linguagens para se comunicar
melhor com o mundo. Assim sendo o RCC conseguiu dá um fôlego novo a igreja, principalmente
com relação a celebração da missa que passou a utilizar músicas mais alegres e
uma flexibilidade maior da rígida liturgia. O discurso ecumênico é a nova
realidade da igreja e o RCC só se apropria e ressignificar as práticas do
protestantismo pentecostal, devido a esse discurso da igreja de aproximação com
outras religiões, reconhecendo que existe mais
caminhos que levam a missão salvífica de Deus para o homem.
Os membros do RCC acreditam em um fenômeno chamado de batismo no
espírito santo, este batismo não é um sacramento novo da igreja, mas sim, uma
experiência pessoal de conversão que o indivíduo sentir ao ser preenchido pelo
espirito santo. Isso ocorre em momentos oração quando o indivíduo passa por um
processo de efusão no espirito santo, muitas vezes acompanhada do “repouso no
espirito santo” que é uma espécie de desmaio consciente durante o momento de
oração. Existe também a chamada oração em línguas que não corresponde a nenhum
idioma especifico, seria uma forma de linguagem apenas de Deus e dos anjos.
Essas duas práticas do RCC não são recomendadas pela igreja, porém não são
condenadas, apenas a igreja tentar separar o que realmente é a inspiração do
espírito santo e surge em momentos de oração involuntariamente, e o que é
induzido apenas pelo animador do grupo quando está reunido em momento de
oração.
O RCC também é o grande responsável pela propagação na igreja dos
chamados “dons do espirito santo” estes são: fortaleza, sabedoria,
entendimento, ciência, conselho, piedade e temor a Deus. É só após o RCC que
esses dons que são recebidos durante o sacramento da crisma, vão ser
sistematicamente difundidos entre seus membros. Os dons são uma espécie de
poderes concedidos pelo espírito santo, para o bem viver e as lutas diárias do
indivíduo, durante seu itinerário no caminho que o leva ao céu. Hoje existe
mais de cem milhões de engajados ao RCC no mundo, sendo o seguimento que mais
cresce dentro da igreja.
Referências:
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decl_19651028_nostra-aetate_po.html. Acesso em: setembro 2017 às 22:30
https://www.google.com.br/search?q=lumen+gentium&oq=lu&aqs=chrome.1.69i57j35i39l2j0l3.2126j0j4&sourceid=chrome&ie=UTF-8 Acesso em: setembro 2017 às 22:30
http://cleofas.com.br/os-sete-dons-do-espirito-santo/. Acesso em: setembro 2017 às 23:30
http://www.rccbrasil.org.br/interna.php?paginas=42. Acesso em: setembro 2017 às 00:30
DUPUIS, Jacques. O cristianismo e
as religiões. Do desencontro ao encontro. São Paulo: Loyola, 2004
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