quarta-feira, 28 de novembro de 2018



 

 

Nostra Aetate


                   A primeira metade do século XX foi marcada por vários conflitos que culminaram nas duas guerras mundiais; provocadas, sobretudo, por um forte nacionalismo, rivalidades, disputas territoriais e econômicas. Além da constante intolerância religiosa que sempre foi praticada na Europa e se fortaleceu com o antissemitismo, propagado pelo nazismo na Alemanha. Tudo isso gerou milhões de mortes em todo o orbe e fez crescer o sentimento de vingança e xenofobia entre as principais nações envolvidas nos conflitos. A igreja católica como única instituição presente em quase todos os países envolvidos nos conflitos. Fez uma espécie de “mea-culpa” e em 25 de dezembro de 1961 o Papa João XXIII por meio da bula papal “humanae salutis”, convoca o concílio vaticano II. É preciso ressalta que a convocação de um evento dessa magnitude para a igreja católica, não é algo comum, em média a igreja costuma fazer apenas um concílio por século, o último concilio havia terminado em 1870, ou seja, é um evento de caráter extraordinário. Até então, os concílios, em sua maioria, tinham sidos convocados para estabelecer dogmas de fé. Contudo, o concílio vaticano II não foi convocado com o intuito de constituir um novo dogma de fé. O objetivo era pastoral e não doutrinal, a igreja precisava modernizar sua forma de comunicação com o mundo e rever sua maneira de se relacionar com as outras religiões.
                       O concílio foi aberto em 11 de outubro de 1962 e partia do principio de que a igreja era responsável pelo deposito da sagrada doutrina cristã e que não poderia em hipótese alguma, se afastar do patrimônio sagrado da verdade, ou seja, a igreja jamais deveria abandona a doutrina de fé que fôra construída ao longo dos seus vários séculos de existência. Porém, a igreja precisava adotar uma forma mais acessível e eficaz de falar com o mundo moderno, sem perder a sua essência. Após quatro calorosas sessões o concilio foi finalizado no dia 8 de dezembro de 1965, produzindo 16 importantes documentos, sendo 4 constituições, 9 decretos e 3 declarações. Desses documentos, dois o “Lumen gentium” e o “Nostra aetate” buscaram tratar da relação que a igreja deveria designar para com as outras religiões, inclusive as ‘não cristãs’. Apazigua as tensões e estabelecer uma relação respeitosa e amigável, era o principal objetivo desses documentos.

                       A declaração “Nostra aetate” da qual tratar o presente texto, reconhecer a religiosidade como algo intrínseco do ser humano e começa a enxergar as outras tradições religiosas de maneira positiva, admitindo que possa existir salvação mesmo nas religiões não cristãs. O cristianismo que por longo tempo sustentou não haver salvação fora da igreja, assume um discurso mais conciliador e tolerante com relação às diferentes tradições religiosas. A igreja olhou para dentro de si e procurou em sua essência, a melhor maneira possível, de estabelecer uma relação cordial com as diferentes tradições religiosas, sem abrir mão da sua doutrina e verdade de fé. De certa maneira, a igreja percebeu que a missão nada despretensiosa designada por Cristo, de “ir a todo o mundo e prega o evangelho a toda criatura”, mostrou-se ser, uma tarefa bastante árdua e difícil de ser alcançada. Após vários séculos de ação missionária o cristianismo conseguiu chegar a todos os continentes e em quase todas as nações. Contudo, converter toda a humanidade ao cristianismo tornou-se algo utópico e impossível de ser alcançado.
              A vitalidade das chamadas religiões mundiais: hinduísmo, budismo, judaísmo, confucionismo e Islamismo, mostrou a Igreja católica que mesmo com muito esforço pastoral, a conversão global ao cristianismo era uma meta muito difícil de ser alcançada. A multiplicidade religiosa fez a Igreja muda o discurso e aceitar a independência religiosa dos povos não cristãos. Na declaração “Nostra aetate” fica bem claro isso, a Igreja procura favorecer a unidade e a caridade entre os homens, reconhecendo a existência de outros caminhos para se chegar a Deus. Contudo, deixa claro em seu discurso que a sua estrada é a melhor pavimentada para se alcançar a Deus, ou seja, a mais completa em doutrina.
                         A declaração “Nostra aetate” vai buscar fomentar por meio da tolerância e do respeito mútuo, a união e a reciprocidade entre os povos, considerando algo que existe de comum em cada individuo, o seja, a busca de um mundo melhor, de paz e harmonia. Ao se referir ao Islamismo a Igreja buscar traços comuns entre as duas doutrinas, convocando cristãos e mulçumanos a supera o passado conflituoso e a exercitarem a compreensão mútua para que juntos possam defender e promover a justiça social. Com relação ao judaísmo documento vai reconhecer sua importância para o cristianismo e o grande patrimônio espiritual comum entre as duas religiões. Além disso, a Igreja também vai se posicionar contra o antissemitismo e quaisquer forma de perseguição contra os judeus, repudiando as manifestações de ódios em qualquer período que tenham ocorrido. A Igreja ensina que Cristo sofreu voluntariamente e que sua morte na cruz é um sinal de amor e salvação e não pode servir de justificativa para propagação do ódio contra os judeus.
                      Com relação ao hinduísmo e ao budismo a Igreja vai reconhecer a busca do ser humano pelos mistérios divino. Porém, fica evidente em suas declarações a dificuldade e o esforço que a Igreja faz, para compreender essas  religiões que não são monoteístas e que tem doutrinas imensamente diferente do cristianismo. Contudo a igreja busca olhar para essas religiões com sincero respeito, reconhecendo que ali também existe o sagrado o verdadeiro o divino e o santo.
                       Por fim a Igreja deixou claro em suas declarações que nela se encontra a plenitude dos meios de salvação, isso, porém, não quer dizer que este seja o único e exclusivo caminho. É possível afirma que existe uma certa ambiguidade entre e novo discurso da igreja católica na tentativa de se moderniza, com relação a manutenção da sua doutrina. Contudo, ao chamar para si a responsabilidade, e condenar veementemente toda e qualquer forma de discriminação ou violência praticada por motivos de raça, cor ou religião. O Concílio teve fundamental importância no apaziguamento das tensões, provocadas principalmente pela visão etnocêntrica de mundo, que a Igreja direta ou indiretamente ajudou a criar.   
Referencias bibliográficas:

DUPUIS, Jacques. O cristianismo e as religiões: do desencontro ao encontro. São Paulo: Loyola, 2004, pág. 40-69; 88-96.



O Cristianismo e as Religiões (o fenômeno da aproximação e o RCC)

O cristianismo e suas várias denominações religiosas é a fé mais professada no mundo e está presente em todos os continentes. Mas, não foi sempre assim, o cristianismo surgiu como uma vertente subversiva do judaísmo, sem, no entanto, nunca ter rompido diretamente com o mesmo. A relação de Jesus com o Judaísmo é de continuidade e aperfeiçoamento, pois em nenhum momento houve a intenção de superar o judaísmo, ou mesmo, substituí-lo por uma nova religião. Pelo contrário, em todo o evangelho é possível identificar claramente que a matriz dos ensinamentos pregados por Cristo, está completamente ligada a tradição judaica. Porém, mesmo existindo a vontade de continuidade é notório a divergência nas ideias e a ambiguidade criadas pelo discurso de Cristo, pois, ao mesmo tempo que tenta conciliar-se com a antiga lei, impõe a mesma uma renovação.Tudo isso gera conflito entre a tradição religiosa dominante o judaísmo e a sua mais nova vertente, récem criada por Jesus, a consequência desse embate é a perseguição a Cristo e a suas novas ideias.
Jesus vai romper a barreira do mundo religioso judeu, estendendo a ação salvifica de Deus para os outros povos, sua relação de respeito e afeto para com os pagãos, evidencia que o reino de Deus anunciado é para todos, e não mais, apenas para os judeus. E este reino começa ainda na vida terrena de Jesus, portanto, seu objetivo não era criar uma igreja diferente, mais sim instaurar o reino de Deus que começa aqui ainda na terra. A igreja primitiva nos primeiros séculos da era cristã, também não vai romper automaticamente com o judaísmo, o processo de construção do cristianismo é lento, porém progressivo e continuo, aos poucos vai se gestando uma identidade nova, em um processo longo que vai evoluindo para o desenvolvimento de uma consciência religiosa distinta do judaísmo. Ao se expandir o cristianismo vai fugindo do horizonte da pregação e missão de Cristo que é o reino de Deus, e começa a estabelecer mediações entre o homem e a salvação, ou seja, aos poucos o cristianismo quando se torna a vera religione vai reconstruindo o muro que Jesus havia derrubado ao romper a barreira do mundo religioso judeu. Construíndo o seu próprio muro e determinando quem pode entra dentro dele ou não, com isso, vai criando-se dentro do cristianismo um desprezo pelas crenças que não professam a mesma fé.
            Apesar de ser pelo menos no primeiro momento uma “versão não autorizada do judaísmo” o cristianismo vai se apropria e fazer uma interpretação do antigo testamento, para legitimar as novas verdades criadas no novo testamento. A tradição biblica é forjada em um contexto de legitimação da autoridade, a promessa feita a Abrãao, as hostilidades em relações a outras religiões no antigo testamento. Tudo isso criar a auto compreensão judaica de povo eleito e essa interpretação vai respigar no cristianismo que também vai se ao proclamar como o único e verdadeiro povo eleito. Essa restrição aos demais povos da salvação que provém de Deus, não se faz presente na pregação de Cristo, pois no seu discurso estava claro que a salvação era destinada igualmente a todos os homens. Portanto, existe na pregação de Cristo uma universalidade da salvação, e não um exclusivismo que a noção etnocêntrica de povo eleito provocou. A todo momento Jesus anda com os pagãos e conversa com os samaritanos, por mais de uma vez sua pregação é dirigida as ovelhas perdidas da casa de Israel, ou seja, em nada se aproxima do exclusivismo criado pelo cristianismo.
            Após vários séculos do pensamento exclusivista o cristianismo vai tentar se abrir ao dialogo com as outras religiões, reconhecendo os valores positivos que estam contidos nas diversas tradições religiosas. Isso só vai acontecer na década de sessenta com o Concílio vaticano II, porém, apesar de ser uma iniciativa de diálogo e respeito, o cristianismo católico vai enxergar as outras religiões com suas “lentes” ainda voltadas para si. Pois ao mesmo tempo em que se abrir ao diálogo, a igreja não abri mão de nenhuma das suas verdades de fé, se auto afirmando com única portadora e detentora do depósito sagrado da fé. O concílio vaticano II foi o primeiro grande passo da igreja rumo ao diálogo, porém, não estabeleceu uma relação de igualdade no discurso, algo que hoje está se discutindo com um equilíbrio maior. Contudo, é preciso resaltar o contexto em que o concílio foi convocado, pós duas grandes guerras mundiais, somado ao clima de rivalidade e xenofobia presente em toda a Europa. É preciso reconhecer a importância que o concílio teve para aplacar os ânimos exaltados, e a evolução do seu discurso após vários séculos de uma visão exclusivista de mundo que só gerou discórdia e conflitos.
É nesse contexto ainda na década de sessenta pós-concílio vaticano II que surge a Renovação Carismática Católica, um seguimento novo da igreja que surgiu nos EUA após um retiro espiritual. O movimento RCC como ficou conhecido, sofreu forte influência do protestantismo pentecostal e também pelas mudanças que estavam ocorrendo na igreja católica pós-concílio. Assim como o concílio vaticano II, esse novo seguimento da igreja não buscava abolir nenhum dogma. O RCC apenas oferecia uma abordagem nova e inovadora num período de modernização onde a igreja buscava criar novas linguagens para se comunicar melhor com o mundo. Assim sendo o RCC conseguiu dá um fôlego novo a igreja, principalmente com relação a celebração da missa que passou a utilizar músicas mais alegres e uma flexibilidade maior da rígida liturgia. O discurso ecumênico é a nova realidade da igreja e o RCC só se apropria e ressignificar as práticas do protestantismo pentecostal, devido a esse discurso da igreja de aproximação com outras religiões, reconhecendo que existe mais caminhos que levam a missão salvífica de Deus para o homem.
Os membros do RCC acreditam em um fenômeno chamado de batismo no espírito santo, este batismo não é um sacramento novo da igreja, mas sim, uma experiência pessoal de conversão que o indivíduo sentir ao ser preenchido pelo espirito santo. Isso ocorre em momentos oração quando o indivíduo passa por um processo de efusão no espirito santo, muitas vezes acompanhada do “repouso no espirito santo” que é uma espécie de desmaio consciente durante o momento de oração. Existe também a chamada oração em línguas que não corresponde a nenhum idioma especifico, seria uma forma de linguagem apenas de Deus e dos anjos. Essas duas práticas do RCC não são recomendadas pela igreja, porém não são condenadas, apenas a igreja tentar separar o que realmente é a inspiração do espírito santo e surge em momentos de oração involuntariamente, e o que é induzido apenas pelo animador do grupo quando está reunido em momento de oração.
O RCC também é o grande responsável pela propagação na igreja dos chamados “dons do espirito santo” estes são: fortaleza, sabedoria, entendimento, ciência, conselho, piedade e temor a Deus. É só após o RCC que esses dons que são recebidos durante o sacramento da crisma, vão ser sistematicamente difundidos entre seus membros. Os dons são uma espécie de poderes concedidos pelo espírito santo, para o bem viver e as lutas diárias do indivíduo, durante seu itinerário no caminho que o leva ao céu. Hoje existe mais de cem milhões de engajados ao RCC no mundo, sendo o seguimento que mais cresce dentro da igreja.

Referências:
http://cleofas.com.br/os-sete-dons-do-espirito-santo/. Acesso em: setembro 2017 às 23:30

http://www.rccbrasil.org.br/interna.php?paginas=42. Acesso em: setembro 2017 às 00:30

DUPUIS, Jacques. O cristianismo e as religiões. Do desencontro ao encontro. São Paulo: Loyola, 2004

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Resenha do livro História noturna de Carlo Ginzburg

O renomado Historiador italiano Carlo Ginzburg, nasceu na cidade de Turin, Itália, pertencia a uma família de judeus intelectuais, começou seus estudos em Tarem e depois foi para Roma e fez universidade em Pisa, na Escola Normal Superior, foi professor da universidade de Bolonha e da universidade da Califórnia em Los Angeles. Ginzburg é especialista na analise dos processos da inquisição nos séc. XVI e XVII, e muito conhecido do publico brasileiro, principalmente pela obra “o queijo e os vermes”. Apesar de ser um dos pioneiros no estudo de micro história, no livro história noturna o autor não reduz a lente de observação, pelo contrário, Ginzburg amplia e estende o campo de observação, para muito além da Europa, estudando a origem e evolução de vários mitos, até se chegar ao pensamento coletivo comum, de como seria constituindo o Sabá.
Ginzburg, não tem nenhuma confissão religiosa revelada, porém, o seu trabalho da grande importância à religião, devido ao fato do autor ter se especializado em estudar a história das feitiçarias e a importância dos fenômenos religiosos, o que não era algo comum na sua época. O autor trabalhou muito a perseguição imposta à feitiçaria, a escolha de estudar esse tema, se deu pela fascinação que o autor nutriu pelos contos de fada que leu durante a infância, a ligação entre feitiçarias e contos de fadas teve um papel muito decisivo na sua escolha do seu objeto de investigação. História noturna, foi o livro em que o autor trabalhou durante mais tempo, ao todo foram 15 anos de dedicação, com longos intervalos, o próprio autor revela que chegou a pensa que nunca conseguiria terminá-lo, o livro foi lançado em abril de 1989, e aborda o problema do sabá, numa perspectiva ao mesmo tempo histórica e morfológica.
A obra história noturna decifrando o sabá de Carlo Ginzburg, diferente muito de outras obras famosas como o “queijo e os vermes” e “andarilhos do bem”, pois, está obra não se caracteriza como micro história. Pois apesar de manter a temática popular, a obra faz uma longa viagem pelo universo dos mitos em diferentes épocas e lugares geograficamente distantes uns dos outros. A obra também não falar de uma pessoa específica e seu contexto histórico, mais sim das origens antigas por trás da imagem enigmática do sabá. Ginzburg vai relata uma serie de trocas, de contatos e filiações entre diversas culturas, também trabalha na obra a transmissão de estruturas de linguagem pelo inconsciente. Para Ginzburg, os relatos sobre tortura, feitos a respeito do sabá, têm algo comum tanto nas respostas dos interrogatórios, como nas perguntas feitas pelos inquisidores e juízes. Para o autor, tudo isso remete a um longo processo histórico na construção de mitos, que transpõe a barreira do visível e liga pela inconsciente o mundo dos vivos e dos mortos, rompendo a barreira do real e do imaginário.
Ginzburg vai faz um passeio pela Europa, Ásia, África e até mesmo a América, fazendo um paralelo entre os mitos e buscando similaridades e um possível elemento comum, seja estrutural ou literal. Na Grécia, a principal fonte de mitologia universal, Ginzburg se detém um pouco mais em sua obra e encontra estruturas análogas, nas diversas narrativas da mitologia grega. Autores como: Eurípides, Virgílio, Plutarco, Tucídides, Tertuliano, Heródoto, Hesíodo, Homero entre outros. Possuem vários elementos estruturais que se repetem em suas narrativas, como o “pé inchado” de Édipo e o “pé preto” de Melampo, ou mesmo o calcanhar de Aquiles. Para Ginzburg as vulnerabilidades e deficiência física nos protagonistas dos mitos, sejam no calcanhar, ou em uma perna ferida, seja em um simples mortal ou em um deus, como no caso de Hefesto. Repetem-se e refletem formas diferentes com o mesmo traço simbólico, que vai forma um substrato mitológico antigo e inconsciente, que se fará presente na elaboração de estereótipos sobre o sabá e nos tratados demonológicos dos inquisidores, no século XIV e XV. O autor propõe uma interpretação, onde por trás da imagem enigmática do sabá, relacionado a encontros noturnos, onde se pratica orgias, se faz porções mágicas, invoca-se o diabo, entre outras coisas, se revela as expressões de mitos e ritos, advindos de várias origens

Ao apresenta sobre a coxeadura, por exemplo, Ginzburg mostra como o mesmo fenômeno aparece também num rito terena, onde há inúmeros mitos documentados nas Américas, China, na Europa Continental e no Mediterrâneo, todos ligados, numa espécie de conexão transcultural.  O livro está dividido em três partes: Na primeira o autor faz um levantamento histórico, muito minucioso, já na segunda, Ginzburg se utiliza de uma série documental no âmbito geográfico, a última parte do livro o historiador faz um levantamento das estruturas simbólicas, e a sua maior preocupação é descobrir as origens dos elementos, convergidos, que criaram os estereótipos da suposta reunião de bruxas, onde também são analisados os aspectos culturais de diversas civilizações, lugares e épocas distintas.
 Para o autor o mito nos convida a reconhecer a simetria, uma característica dos seres vivos sobre mitos e ritos que se referem à morte, de maneira insistente ao retorno, ou seja, a idéia de voltar à vida. O mito ou rito são transmitidos por meio de mecanismos históricos, as regras formais de sua própria reelaboração, presente na obra o autor faz diversas comparações entre mitos gregos o que neles há em comum com os demais e também outras culturas, onde também são praticados. Para tentar se chegar às origens folclóricas do sabá, Ginzburg estuda de maneira minuciosa a feitiçaria e cultos agrários, como já fazia em suas outras obras. Porém, nesta obra o objeto de pesquisa é expandido para além-fronteiras, não se contentando apenas com o continente europeu, tudo isso, para se chegar às raízes da idéia, de uma sociedade de bruxas e feiticeiros hostis à cristandade. O Autor vai estudar cultos presentes em toda região mediterrânea: nos povos gregos, romanos, celtas, germânicos, além da China pré-histórica, ao Japão e a Lapônia, Ginzburg irá identificar nessas diversas regiões separadas geograficamente, cultos às deusas noturnas, divindades ora feminina, ora masculina, presente em um contexto geográfico-cultural eurasiático.
Por fim, mais não menos importante, é preciso salienta que Ginzburg tece em sua introdução uma crítica, discordando de alguns historiadores como: Trevor-roper e Keitj Thomas; pelo fato dos mesmos, ao tratarem do tema, não colherem material sobre o que pensam as pessoas que acreditam e praticam o sabá, com um apanhado mais próximo à antropologia, estes historiadores foram restritos ao movimento da inquisição e penalidade dos juízes. Ao contrario o objetivo de Ginzburg foi de combinar a forma estrutural e historia do sabá. A leitura dessa obra proporciona ao leitor, mergulhar na mentalidade medieval a respeito do sabá e como a igreja da época, satanizou a cultura dita “paga”. Ginzburg desvendou uma historia “noturna”, que envolve mitos, simbolismo e o medo de uma população, além da coexistência e conflito entre a cultura folclórica medieval e a cultura eclesiástica.

REFERÊNCIAS:

Estudos históricos: Rio de Janeiro, vol. 3. n 6. 1990 pgs 254 – 263.
Historia Noturna decifrando o sabá Tradução Nilson Moulin Louzada2ª edição - 2ª reimpressão - Companhia das Letras






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