UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
NÚCLEO DE GRADUAÇÃO/LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
Disciplina:
NGCR0003 - Teologias das Religiões II
Claude
Geffré nasceu em 23 de janeiro de 1926 na cidade de Niort, oeste da França,
apenas oito anos após o fim da primeira guerra, quando a Europa ainda tentava
se recuperar. Entrou para “ordem dos pregadores” e em 1948 formou-se na escola
de São Tomás de Aquino, em 1965 entra para o “instituto católico de Paris” como
professor de teologia fundamental. Nesta época Geffré se encontrava em um
contexto pós-segunda guerra mundial e principalmente pós-concílio vaticano II,
quando a teologia tradicional passa a ser repensada em duas frentes, a chamada
“guinada hermenêutica” e o reconhecimento do pluralismo religioso. Geffré se
consolidou em sua vasta carreira como um dos principais teólogos católicos do
século XX, sendo uma espécie de mediador entre a fé da igreja com as inúmeras
expressões religiosas existentes no mundo contemporâneo.
O
autor parte do princípio que o teólogo das religiões não é apenas um mero
observador neutro e ao fazer a comparação em teologia das religiões usa a sua
própria tradição religiosa como medida, ou seja, como uma espécie de lente
cultural que impossibilita a neutralidade. Ainda assim, para Geffré é
impossível falar de teologia das religiões sem recorrer ao método comparativo, porém
o que o autor apresentar é maneira diferente de usar o método. Primeiramente o
seu texto reconhece a originalidade da teologia das religiões e sua tendência de
ser o novo horizonte do qual será reinterpretado as verdades fundamentais da fé
cristã. Geffré propõe um passo mais além da já conhecida teologia ecumênica, ou
mesmo da antiga teologia da salvação dos infiéis. Pois já existe dentro da
igreja mesmo antes do concílio vaticano II a discussão sobre a possibilidade de
salvação fora do horizonte cristão. A inovação teológica do autor acontece
quando afirma que se a igreja já se encontra pronta para reconhecer o juízo
positivo em outras religiões, então, por que não afirma que existe um
pluralismo de princípio e que este pluralismo, faz parte da vontade misteriosa
do próprio Deus.
Segundo
o autor foi o ecumenismo começado dentro das religiões cristãs que quebrou a máxima
católica de que “fora da igreja não há salvação”. Foi justamente a superação desse
absolutismo católico que construiu as bases para desenvolver um ecumenismo
inter-religioso e planetário. Geffré reconhece a impossibilidade de se
estabelecer uma unidade entre todas as religiões, para o autor o diálogo não
significa chegar a uma espécie de “metarreligião” onde todas as diferenças
seriam abolidas. Pois, sendo assim haveria uma perda de identidade própria e a
especificidade de cada religião ficaria comprometida.
O
pioneirismo de Geffré está no fato dele apresentar para teologia das religiões
a tarefa de criar um fundamento teológico que possa suscitar na igreja uma
atitude nova perante as outras religiões. O mundo contemporâneo não tem mais
espaço para um teólogo que se concentrar apenas na defesa dos dogmas é preciso
ir mais além da sua própria tradição religiosa. O documento formulado pelo
concílio vaticano II a declaração Nostra
aetate, aponta essa nova posição da igreja diante das demais religiões
mundiais. O Geffré tem um papel importante pós-concílio no sentido apresentar
um caminho novo para teologia cristã diante da nova postura da igreja. O autor
afirma que estamos vivendo em uma época de tolerância, pluralidade e respeito
às opiniões contrárias. Portanto é preciso construir uma fundamentação
teológica que comporte a unidade família humana no plano de Deus.
O
autor acredita que existe um mistério oculto de Cristo, salvador do mundo, nas
diversas tradições religiosas da humanidade, pois é inegável a presença de
valores fundamentais para o cristianismo, como a bondade e a caridade nos
elementos estruturais das grandes religiões do mundo. Geffré mesmo sendo
católico usa o termo “desabsolutizar” o cristianismo como religião histórica,
como sendo a melhor forma de compreender as demais religiões. Foge de termos
gerais como: exclusivista, inclusivista e pluralista. Pois acredita que esses
termos rotulam e enquadra outras verdades religiosas em categorias que fogem do
objetivo da teologia das religiões. Para Geffré é preciso exorcizar qualquer
“veneno apologético” ao fazer o uso do método comparativo, isso vale tanto
hermenêutica dos textos do cristianismo, como para leitura das diversas outras
religiões da humanidade.
O
norte principal que a teologia da religião deve buscar é o despertar, para
construção de uma teologia inter-religiosa, onde cada um se esforça para
compreender o outro em sua própria religião, ou seja, em seu próprio horizonte
teológico. Por isso o autor afirma categoricamente que o método comparativo não
pode comparar doutrinas, instituições ou ritos. Pois estas práticas fazem parte
do ser religioso e sua identidade, refere-se, ao que para o outro tem sentido
como valor absoluto.
A
metodologia comparativa apontada no texto parte do princípio que é preciso
reinterpreta o cristianismo tendo em vista a insuperável questão do pluralismo
religioso. Para o autor dentro do próprio cristianismo existem mecanismos, ou
seja, princípios capazes de ajuda na relativização. Contudo é preciso entender
que Geffré não está orientado pela questão da salvação dos homens fora da
igreja, o que está se pretendendo é entender o sentido do insuperável
pluralismo religioso, qual significado isso representa nos planos de Deus para
com a humanidade. Após dois mil anos de evangelização, as religiões continuam
existindo com bastante vitalidade, portanto não é possível mais ignorá-las ou
rotularas como superstições. É preciso busca entender o significado das
religiões em si mesmas, Geffré sugeri que possa haver uma relação autêntica de
Deus fora do universo cristão. Então para que exista uma compreensão
aprofundada do cristianismo é preciso que haja um diálogo com o outro,
reconhecendo assim a existência de um pluralismo de princípio.
Podemos
dizer que proposta de Geffré, abri caminho para construção de uma nova
identidade cristã, reconhecendo verdades fora do cristianismo e renovando assim
a linguagem da fé. Entendo o pluralismo como uma expressão da vontade de Deus,
e a diversidade religiosa como melhor forma de expressar sua verdade e seu
mistério. Para o autor a verdade não pertence a apenas uma cultura, nem tão
pouco várias culturas, mais é o encontro dessa variedade de culturas que pode
possibilitar enfim o encontro com a verdade, até então não encontrada em
nenhuma delas.
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Referência:
GEFFRÉ,
Claude. Crer e interpretar: a
virada hermenêutica da teologia. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 29-63; 131-154
(Capítulos I e IV).
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