O
renomado Historiador italiano Carlo Ginzburg, nasceu na cidade de Turin,
Itália, pertencia a uma família de judeus intelectuais, começou seus estudos em
Tarem e depois foi para Roma e fez universidade em Pisa, na Escola Normal
Superior, foi professor da universidade de Bolonha e da universidade da
Califórnia em Los Angeles. Ginzburg é especialista na analise dos processos da
inquisição nos séc. XVI e XVII, e muito conhecido do publico brasileiro,
principalmente pela obra “o queijo e os vermes”. Apesar de ser um dos pioneiros
no estudo de micro história, no livro história noturna o autor não reduz a
lente de observação, pelo contrário, Ginzburg amplia e estende o campo de
observação, para muito além da Europa, estudando a origem e evolução de vários
mitos, até se chegar ao pensamento coletivo comum, de como seria constituindo o
Sabá.
Ginzburg,
não tem nenhuma confissão religiosa revelada, porém, o seu trabalho da grande
importância à religião, devido ao fato do autor ter se especializado em estudar
a história das feitiçarias e a importância dos fenômenos religiosos, o que não
era algo comum na sua época. O autor trabalhou muito a perseguição imposta à
feitiçaria, a escolha de estudar esse tema, se deu pela fascinação que o autor
nutriu pelos contos de fada que leu durante a infância, a ligação entre
feitiçarias e contos de fadas teve um papel muito decisivo na sua escolha do
seu objeto de investigação. História noturna, foi o livro em que o autor
trabalhou durante mais tempo, ao todo foram 15 anos de dedicação, com longos
intervalos, o próprio autor revela que chegou a pensa que nunca conseguiria
terminá-lo, o livro foi lançado em abril de 1989, e aborda o problema do sabá, numa perspectiva ao mesmo tempo
histórica e morfológica.
A obra história noturna decifrando o
sabá de Carlo Ginzburg, diferente muito de outras obras famosas como o “queijo
e os vermes” e “andarilhos do bem”, pois, está obra não se caracteriza como
micro história. Pois apesar de manter a temática popular, a obra faz uma longa
viagem pelo universo dos mitos em diferentes épocas e lugares geograficamente
distantes uns dos outros. A obra também não falar de uma pessoa específica e
seu contexto histórico, mais sim das origens antigas por trás da imagem
enigmática do sabá. Ginzburg vai relata uma serie de trocas, de contatos e
filiações entre diversas culturas, também trabalha na obra a transmissão de estruturas
de linguagem pelo inconsciente. Para Ginzburg, os relatos sobre tortura, feitos
a respeito do sabá, têm algo comum tanto nas respostas dos interrogatórios,
como nas perguntas feitas pelos inquisidores e juízes. Para o autor, tudo isso
remete a um longo processo histórico na construção de mitos, que transpõe a
barreira do visível e liga pela inconsciente o mundo dos vivos e dos mortos,
rompendo a barreira do real e do imaginário.
Ginzburg
vai faz um passeio pela Europa, Ásia, África e até mesmo a América, fazendo um
paralelo entre os mitos e buscando similaridades e um possível elemento comum,
seja estrutural ou literal. Na Grécia, a principal fonte de mitologia
universal, Ginzburg se detém um pouco mais em sua obra e encontra estruturas
análogas, nas diversas narrativas da mitologia grega. Autores como: Eurípides,
Virgílio, Plutarco, Tucídides, Tertuliano, Heródoto, Hesíodo, Homero entre
outros. Possuem vários elementos estruturais que se repetem em suas narrativas,
como o “pé inchado” de Édipo e o “pé preto” de Melampo, ou mesmo o calcanhar de
Aquiles. Para Ginzburg as vulnerabilidades e deficiência física nos
protagonistas dos mitos, sejam no calcanhar, ou em uma perna ferida, seja em um
simples mortal ou em um deus, como no caso de Hefesto. Repetem-se e refletem
formas diferentes com o mesmo traço simbólico, que vai forma um substrato
mitológico antigo e inconsciente, que se fará presente na elaboração de
estereótipos sobre o sabá e nos tratados demonológicos dos inquisidores, no
século XIV e XV. O autor propõe uma interpretação, onde por trás da imagem
enigmática do sabá, relacionado a encontros noturnos, onde se pratica orgias,
se faz porções mágicas, invoca-se o diabo, entre outras coisas, se revela as
expressões de mitos e ritos, advindos de várias origens
Ao
apresenta sobre a coxeadura, por exemplo, Ginzburg mostra como o mesmo fenômeno
aparece também num rito terena, onde há inúmeros mitos documentados nas
Américas, China, na Europa Continental e no Mediterrâneo, todos ligados, numa
espécie de conexão transcultural. O livro está dividido em três partes: Na
primeira o autor faz um levantamento histórico, muito minucioso, já na segunda,
Ginzburg se utiliza de uma série documental no âmbito geográfico, a última
parte do livro o historiador faz um levantamento das estruturas simbólicas, e a
sua maior preocupação é descobrir as origens dos elementos, convergidos, que
criaram os estereótipos da suposta reunião de bruxas, onde também são
analisados os aspectos culturais de diversas civilizações, lugares e épocas
distintas.
Para o autor o mito nos convida a reconhecer a
simetria, uma característica dos seres vivos sobre mitos e ritos que se referem
à morte, de maneira insistente ao retorno, ou seja, a idéia de voltar à vida. O
mito ou rito são transmitidos por meio de mecanismos históricos, as regras
formais de sua própria reelaboração, presente na obra o autor faz diversas
comparações entre mitos gregos o que neles há em comum com os demais e também
outras culturas, onde também são praticados. Para
tentar se chegar às origens folclóricas do sabá, Ginzburg estuda de maneira
minuciosa a feitiçaria e cultos agrários, como já fazia em suas outras obras.
Porém, nesta obra o objeto de pesquisa é expandido para além-fronteiras, não se
contentando apenas com o continente europeu, tudo isso, para se chegar às
raízes da idéia, de uma sociedade de bruxas e feiticeiros hostis à cristandade.
O Autor vai estudar cultos presentes em toda região mediterrânea: nos povos
gregos, romanos, celtas, germânicos, além da China pré-histórica, ao Japão e a
Lapônia, Ginzburg irá identificar nessas diversas regiões separadas geograficamente,
cultos às deusas noturnas, divindades ora feminina, ora masculina, presente em
um contexto geográfico-cultural eurasiático.
Por
fim, mais não menos importante, é preciso salienta que Ginzburg tece em sua
introdução uma crítica, discordando de alguns historiadores como: Trevor-roper
e Keitj Thomas; pelo fato dos mesmos, ao tratarem do tema, não colherem
material sobre o que pensam as pessoas
que acreditam e praticam o sabá, com um apanhado mais próximo à antropologia,
estes historiadores foram restritos ao movimento da inquisição e penalidade dos
juízes. Ao contrario o objetivo de Ginzburg foi de combinar a forma estrutural
e historia do sabá. A leitura dessa
obra proporciona ao leitor, mergulhar na mentalidade medieval a respeito do
sabá e como a igreja da época, satanizou a cultura dita “paga”. Ginzburg
desvendou uma historia “noturna”, que envolve mitos, simbolismo e o medo de uma
população, além da coexistência e conflito entre a cultura folclórica medieval
e a cultura eclesiástica.
REFERÊNCIAS:
Estudos históricos: Rio de Janeiro, vol. 3. n 6.
1990 pgs 254 – 263.
Historia Noturna decifrando o sabá
Tradução Nilson Moulin Louzada2ª edição - 2ª reimpressão - Companhia das Letras
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