Nicolau Maquiavel nasceu no dia 3 de maio de 1469 em Florença, iniciou
sua vida pública servindo a chancelaria da república Florentina em 1498, como
funcionário do mais alto escalão, atuando em funções burocráticas, como
assessor político e na diplomacia; perde seu cargo dado a derrubada da
republica pela família Médici, que restabelece a monarquia. Maquiavel é preso, torturado
e acusado de conspirador, fica impedido de acessa qualquer documento público.
Perdoado pelo papa Leão X, e expulso da vida pública, passa a viver em prisão
domiciliar nos arredores de Florência na região da Toscana Itália, onde passou
a escrever suas obras; a mais famosa delas "O Príncipe" tornou-se um
dos livros mais debatidos do ocidente, sendo escrito em 1513 e oferecido ao
então príncipe de Florência, Lourenço Médici, o mesmo ignora a obra que só é
descoberta vários anos depois em uma reforma realizada no palácio Médici. O
livro é publicado postumamente em 1532, cinco anos após a morte de Maquiavel,
que morre em 1527, ou seja, o autor em vida nunca teve o prazer de saber quão
grande repercussão sua obra fez e continua fazendo até hoje.
O livro equivale a vinte e seis capítulos curtos de analise e tem
a intenção nada modesta de ensinar como o príncipe deve governar, ou seja,
Maquiavel escreve um manual para o bom governante, com opiniões que vão desde a
classificação dos governos até a seleção de pessoal. Estando muito
familiarizado com a ambigüidade moral do poder e sendo muito realista, cria
algo que até aquele momento não existia; o estado-nação. Assim como os
políticos de hoje, Maquiavel justifica medidas desagradáveis e fraudulentas
como necessárias para o bem comum. O príncipe bom não necessariamente é um
homem bom, pois muitas vezes é forçado a agir desrespeitando a boa fé a
caridade e a religião. Segundo Maquiavel o príncipe precisa estudar sobre a
guerra e preferir ser temido, que ser amado, para isso é necessário aprender
como e quando ser cruel. È claro que não se deve deseja a violência, mais nem
sempre quando se agir com boas intenções os resultados são bons. O livro tem
como foco principal a manutenção do poder, mostrando com objetividade os
resultados em detrimento dos meios.
A demonização de Maquiavel vem logo após sua morte, num período
entre 1530 e 1540, em que a contestação das religiões estava no seu auge, e ambos os
lados virão o demônio em Maquiavel. Seu nome e sua região de origem passaram a ser
associados à maldade. Pois estimulou-se o estigma de que tudo que fosse
italiano do sul e católico era de alguma forma Maquiavélico, palavra essa que
virou sinônimo de esperteza, de pessoa ardilosa, demoníaca, ou seja, um símbolo
da maldade, de certa forma Maquiavel foi colocado no “inferno” após sua morte.
È importante ressalta que para os seus contemporâneos, Maquiavel nunca foi
visto como maquiavélico, esse estigma só veio após sua morte dada à repercussão
da obra. Esta bastante difundida na Inglaterra e muito representada em teatros
durante todo o século XVI, com inúmeras peças, sendo todas vinculando o nome Maquiavel
ao mal.
Maquiavel é o primeiro pensador político da ética cristã que
analisou sistematicamente as condições necessárias para se manter no poder. O
Príncipe é um livro sobre o poder, e foi escrito num período de grande
instabilidade política, onde o sistema medieval está desmoronando e a idéia de
que o homem é senhor do seu próprio destino começa a ganhar força, é o início
do renascimento. Nesse período exércitos mercenários caracterizavam o sistema
militar de grande parte da Europa, a Itália renascentista se encontrava
dividida numa anarquia de cidades-estados, com grande alternância entre os seus
governantes; príncipes e papas desfaziam alianças constantemente, assassinatos,
orgias no vaticano, este era o mundo de Maquiavel, a separação entre política e
religião torna-se um tema importante, que ganhar força em sua obra.
A tradição do mundo clássico, tanto em Platão como em Aristóteles
defendia um regime ideal que serviria de estrela polar para se pensar a
política no tempo presente, já a corrente cristã afirma que o homem
tende ao bem, procura e deseja o bem e se essa for à tendência natural dos
homens, a política deveria seguir a mesma tendência, segundo a tradição cristã
a ética deveria esta repartida sobre a política. Maquiavel vai se opor a essas
duas grandes estruturas, afirmando que “dos homens em geral
podemos dizer o seguinte, que eles são volúveis, ingratos, simuladores,
inimigos do perigo”. Os homens não se acomodam a paz, os homens desejam o
conflito e são naturalmente divididos. Portanto não existe campo político sem a
dimensão da força. Mesmo sem contesta os dogmas essenciais da fé católica, seu
livro, pois os dogmas de lado quando foi pensar e falar em política. O esforço
de Maquiavel é a desregulamentação do universo cristão e do universo antigo, se
contrapondo tanto a idéia de regime ideal, quanto à idéia das virtudes cristã, seu método rompe com a tradição medieval ao
fundamentar-se no empirismo e na analise dos fatos recorrendo à experiência
histórica de Roma antiga.
O
conceito de natureza humana para Maquiavel afirma que o homem é um ser
ambicioso e que não satisfação absoluta na vida humana. A natureza humana é má,
o homem é um ser egoísta e interesseiro, antes de qualquer coisa, pensa no seu
lado, almeja a glória e a riqueza. Os homens são maus por essência e bons por
necessidade, “o homem que queira professar o bem por toda parte é natural que
se arruíne entre tantos que não são bons”. Maquiavel se refere ao mundo real, onde
as pessoas são egoístas e cheias de imperfeições, onde os homens ficam mais tristes
com a perda do patrimônio do que com a morte do pai. Esse é o mundo que é não o
mundo do dever ser.
Diferente
do mundo ideal ou do dever ser, onde tudo justo, fraterno, bonito. O mundo real
não é um mar de rosas, e é nesse mundo real que o governante vai governa. “O
príncipe deve amar o país mais do que a própria alma e está preparado para ir
ao inferno por isso”. Maquiavel não ensina o caminho para o céu, ao contrário,
mostra o caminho do inferno, para que o homem possa desvia quando possível. As
conclusões do livro “o príncipe” são questões dolorosas sobre a política, e
mostra como lógica política é inconciliável com a lógica cristã. Para muitos o
livro é um verdadeiro guia para tiranos e totalitários, já outros afirmam que
Maquiavel abriu espaço para tolerância ética e religiosa, direitos individuais
e democracias modernas.
O
governante deve ser bom sempre que possível e sempre que necessário, “tendo o
príncipe necessidade de saber usar bem a natureza do animal, deve escolher a
raposa e o leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não
sabe se defender da força bruta dos lobos. Portanto é preciso ser raposa, para
conhecer as armadilhas e leão, para aterrorizar os lobos” . As principais
qualidades aconselhadas ao soberano dizem respeito ao seu espírito: Ser
piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso. Ainda assim Maquiavel reconhece que
muitas vezes para se preserva o estado, será preciso e de encontro a todas
essas qualidades, ou seja, a noção de necessidade poder justificar um comportamento
que não seja virtuoso ou moral. O príncipe deve ser um ator político, pode não
manter a palavra, não ser humano, devoto, de família, dependendo das
circunstâncias. Porém deve parecer ser todas essas coisas. “As pessoas julgam
pelos olhos como espectador” poucas pessoas conhecem o caráter do governante, o
mundo ver o que o governante parece ser a aparência é muito mais importante que
a realidade.
O
livro mostra que “a diferença entre o modo como se deve viver e como se vivi é
tão grande que o homem que ignora o que é feito realmente e se orienta pelo que
“deve” ser feito, está a caminho da autodestruição”. Mesmo nunca escrevendo a
famosa frase “os fins justificam os meios”, Maquiavel deixa claro em sua obra
que os fins é o que importa. “Os homens têm menos têm menos escrúpulos em
ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por
vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os
homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo que nunca
falha.” Para Maquiavel os principais fundamentos de cada estado são boas leis e
boas armas, por que você não pode ter boas leis sem boas armas e onde existem
boas armas, boas leis inevitavelmente existiram. Nenhum governo pode adotar um
comportamento seguro sem o uso da força, toda vez que alguém tenta escapar de
um perigo, corre em direção a outro maior. Prudência consiste em ser capaz de
avaliar a natureza de uma ameaça e escolher o mal menor.
A
conquista de território também é um tema importante para Maquiavel, que define
medidas estratégicas a ser tomada pelo governante, com fazer com que a linhagem
do antigo príncipe seja extinta; não alterar nem suas leis nem seus impostos, sugere
ainda, que quem se encontre á frente, de uma província diferente, deve tornar-se
chefe e defensor dos menos fortes tratando de enfraquecer os poderosos e
cuidando que em hipótese alguma nela penetre um forasteiro tão forte quanto o
conquistador, pois a ordem das coisas é que, tão logo um estrangeiro poderoso
penetre numa província, todos aqueles que nela são mais fracos, mudem de lado,
movidos pela inveja contra quem se tornou poderoso em seu território. Maquiavel
ainda lista alguns erros que não devem ser cometidos, como eliminar os fracos,
da prestigio ao poderosos, colocar um estrangeiro poderoso no comando, não vim
habitar no pais conquistado, não instalou colônias em suas proximidades. “Quem
é causa do poderio de alguém se arruína por que esse poder resulta ou da
astúcia ou da força e ambas são suspeitas para aquele que tornou poderoso”.
Por
fim a obra de Maquiavel ganhou varias interpretações, como conselheiro do povo,
nacionalista, absolutista e até mesmo republicano. Para muitos é nessa obra que
nasce o realismo político, o livro é escrito em um gênero literário de
transmissão de valores chamado de espelho dos príncipes, onde ensina o príncipe
a governar pela grandeza o estado. O nome Maquiavel ecoou e continuara ecoando
ainda por muitos séculos.